O relato de uma partida “inesquecível”
Lembranças do passado me toma de assalto o espírito nestes dias e continua me trazendo à memória os tempos de juventude, um tempo cada vez mais perdido nas brumas do passado.
Pois é amigo quando
me formei, tive que fazer um curso de pós graduação no Rio Grande do
Sul, na cidade de Novo Hamburgo. Quando
eu estava cursando um colega de classe perguntou se eu jogava bola e futebol de
salão e lhe respondi que sim?
Não
foram poucas as dificuldades enfrentadas na nossa ida, não apenas geográficas,
climáticas, mas, felizmente, estou aqui para contar minha aventura em terras gauchas.
Um dia
fui chamado por amigos da faculdade para jogar um futebolzinho.
Eu não neguei. Não jogava há cerca de dois anos e, além disso, com eu adorava jogar
o bom e velho futebol, aceitei o convite. Coloquei os tênis numa Bolsa, e lá fui eu.
Fui o último a chegar ao local e, com uma roda já escolhendo
os times, fui recebido com as frases: “O Paraíba ta gordinho, hein”,
“Eita, e eu que pensei que na Paraíba só tinha caras magros!”, “Caraca, bicho,
engordou demais!”, etc.
Depois da ótima recepção”, na qual ninguém perguntou como eu estava de
vida, fiquei um tanto constrangido e pensando que iria ser um desastre em campo. Ao abrirmos a porta de nosso vestuário (de
visitante) fomos surpreendidos por um forte odor de urina que rapidamente nos
entorpeceu. Mais do que depressa, pedimos socorro às senhoras responsáveis pela
limpeza do Ginásio, que prontamente nos atenderam e deixaram mais agradáveis
para o nosso trabalho. Iniciamos a montagem dos nossos equipamentos (Calção,
Meiões, camisas etc.).
Estava tudo certo quando percebemos que, dentro do nosso,
não havia energia elétrica e água para tomarmos banhos. Teve início uma
correria sem tamanho atrás dos responsáveis pelo para sanar o problema. O mais
impressionante é que os responsáveis pareciam não se importar muito com a nossa
situação e não se esforçavam o suficiente para nos ajudar.
Foram
formados três times e
o meu ficou no aguardo da primeira partida. No banco de reservas, conversávamos sobre
como iríamos jogar:
– E
aí, Paraíba você joga na frente ou atrás? – perguntou meu amigo – Pode deixar a
zaga central comigo.
– Paraíba e tu acompanharas a galera? – faltava com piada um adversário que estava escutando a conversa.
– Veremos!
– Paraíba e tu acompanharas a galera? – faltava com piada um adversário que estava escutando a conversa.
– Veremos!
Eu até entendí o motivo das provocações.
Eu tinha 1,79m e pesava na época uns 85 kg. Entre os 18 e 25 anos, meu peso
ficava entre 70 kg e 73 kg. Jogava futebol de campo e de futsal na seleção do colégio
e em quase todos os times que joguei, era capitão, marcador e dono
do chute mais forte. Era esse a desconfiança num gordo que nem de longe parecia aquele moleque
lá da adolescência.
Uma coisa, porém, evoluiu: a minha inteligência.
Era uma manhã de sábado de muito calor, aquela quadra
parecia uma sauna de tão quente que estava, e esse calor todo parece que não
fez bem ao time adversário, um monte de descendente de alemães, brancos
que só vela.
Em dez minutos de espera pensei numa forma de
como jogar sem dar vexame. Entramos em quadra. O time adversário parecia
sentir o forte calor e eu marcava forte e fazia lançamentos e nosso atacante fez
um belo gol aproveitando o lançamento, dominou no peito e chutou de primeira
sem deixar a bola cair no chão. O primeiro tempo terminou com uma goleada incontestável
de 4 x 0 para nosso time.
Enfrentávamos
um time de tradição da Cidade. O jogo
teve dois tempos bem diferentes. O primeiro tempo nosso time dominou o jogo,
marcou bem e fez os gols parecia que ia vencer sem dificuldades. No segundo
tempo o nosso time não conseguiu manter o mesmo volume de jogo e estava sendo dominado
pelo adversário. Eu na defesa pensei em dar um “basta no atacante gracioso” e logo
em seguida acompanhei o pique desse “magrinho”. Com uma pequena “cutucada” aliada a um
quase invisível tostão na coxa (olha
a experiência), roubei a bola, protegi e saí tocando com elegância. Depois
dessa o “bichinho foi armar”. Agüentamos a pressão e saímos com uma importante
vitória. As desconfianças pareciam
terminadas.
Não precisei correr tanto no jogo. Corri lógico, mas dei uma
de maestro. A bola chegava
e, não importando como a mandassem, eu conseguia dominar. Amortecia-a tanto com
a esquerda quanto com a direita. Via o jogo, distribuía, lançava, chutava. Dei algumas pancadas
no amigo que soltou uma piadinha de “gordo” antes do jogo. Só ataquei poucas vezes
na área adversária. Meu time ganhou a partida. Acertei uma na trave. Fiz dois gols,
todos de longe e de fora da área. E fiz um gol de longe, frangaço do goleiro, admito. Outro foi de um
chute cruzado e o coroamento foi um golaço no angulo direito.
Todos
os gols foram seguidos de festa. Aquela que alguns desconfiados não fizeram
enquanto eu cheguei atrasado.
O
lado negativo do jogo foi o cartão vermelho tomado nos minutos finais em um
carrinho que dei no adversário metido a gracioso que se desentendeu com o nosso
goleiro e eu cheguei “Junto”! E fui expulso com ele.
Ao final do jogo não havia mais piadinhas.
Eu realmente estava cansado, mas meus amigos, a maioria magros,
estavam esbaforidos, como se estivessem longe do chão. O gordinho paraibano
Jobão foi o maior vitorioso do dia. Fui para o apartamento que morava contente
como se tivesse jogado futebol pela
primeira vez.
Tudo bem que a fadiga muscular me
pegou de jeito no dia seguinte. Mas no Domingo eu já estava saboreando um belo
rodízio de carne com Cervejas a
gosto. Ah, sabe da nova? Ligaram-me várias vezes para jogar e fui convocado
para jogar na seleção da Faculdade nos jogos inter seleções e saímos Campeões da
referida disputa.
Finalmente
nós atletas temos algumas histórias e somos, todos, partes indivisíveis de uma
só história, erigida com muitos sacrifícios pessoais. Portanto, é preciso
saudar com muito entusiasmo os que permanecem entre os vivos. Na ânsia
permanente de continuarmos escapando dos muito-vivos.
Abraços
a todos meus amigos e desportistas de nossa querida cidade Campina Grande
Isto
foi uma história de um Paraíbano no Rio Grande do Sul
12 comentários:
Conheci o Jobão, foi um grande jogador, um zagueiro vigoroso e destemido. Era o que mais dava segurança aos seus atacantes e o que mais arrepiava os adversários. Não acariciava ninguém e botava pra quebrar até mesmo nos treinos. Valente como ele só. Foi artífice de inúmeras passagens hilárias com atacantes que enfrentava, de tal maneira que muitos acabavam por treinar a perna direita só para mudar de lado.
Para ter uma idéia, antigamente, os jogos de futebol de salão nos jogos Colegiais de Campina Grande tinham muita assistência e quase sempre as laterais eram demarcadas pela própria torcida, e quando não, invariavelmente, um jogador adversário era arremessado por cima do pessoal que ficava à margem da lateral. Vi um jogador do 11 de Outubro fortão bater um pino da gota com o jobão.
Meus parabéns Jobedis, gostei, porque aqueles que achavam que o Paraíba podia não ser de nada, fôsse lá e, desse o recado bem dado, êles acreditaram depois que o Paraíba não é so um Pau de Arara, além de ser um craque é também,um grande aluno dentro da Faculdade.,
Parabéns por representar tão bem a Paraíba, esse pessoal do Sul,tem uma impressão muito errônea da nossa gente, quando nos visitam, mudam de opinião.
Jobedis Prezado amigo
Feliz em ver sua saúde plena...
Neste relato voc consegue você provar;que se o ser humano cultivar em si próprio, o autoconhecimento,o amor pela vida, ter fé em si mesmo e ter fé na vida, ele chegará à sabedoria das virtudes.
Pois basta uma vibração no sentido virtuoso,para que todo o Céu se abra...
Um BAITA ABRAÇO deste que o admira e que estudou contigo aqui na Fevale (RS) e assistiu a este famoso jogo. e posso dizer e VI E ESTA AQUI.
..
Jobedis
Meu grande zagueiro. Acabei de ver a tua historia daquele jogo
Adorei ver você falando, mostrando teu entusiasmo, tua aparência muito boa.Tuas declarações finais foram o instrumento da tua vitória.
Fiquei feliz de verdade, muito feliz em ver essa sua imagem com os cabelos brancos..
Sobre teu trabalho nada a declarar, pois ´todos já sabemos a enorme importância do mesmo.
O mais importante foi ver você tão bem, falante, com ótima aparência.
Abração do amigo.
Valter Hiebert Shuck
Jobão
parabéns pelo teu acervo esportivo e cultural que tive a oportunidade de conhecer na Faculdade aqui em Novo Hamburgo e estagiar contigo no Centro Tecnologico de Estancia Velha
parabéns também pelo seu Museu.
Abraço
Amigo Jobedis
legal !
Ontem eu ali seu relato da partida que vc Jogou nos Atirados de Novo Hamburgo. Relato sempre com muita qualidade, muita historia rica de detalhes parabéns Mais este relato. Jobão cara fisicamente você esta muito bem.
Surpresa maravilhosa, você firme Graça a Deus!
Um abraço
Jobedis
Parabéns , pela repercussão daquela historica partida.
Isto prova que falar sobre o passado com competência inspira credibilidade.Faço votos que você continue nessa trilha e por isso me sinto a vontade para colaborar com teu blog.
Abs
Carlos Mueller Fredehaitter
Jobedis
Parabéns pela narrativa, pela coragem com que enfrentou os gringos e o pesado desafio que foi imposto e pela firmeza com que jogou a partida . Fiquei felizcom seu aspecto de sua vida na atualidade. Que Deus lhe conceda força, saúde e graça para este tempo difícil. Sabe que todos desejamos . Quanto ao jogo eu estava la e joguei ao seu lado.
Abração e fiquei muito feliz em rever
Parabéns pelo relato!!! Parabéns pela vitória no jogo!!!! Parabéns por sua vida e por ser quem VOCÊ é!!!
É muito bom poder usufruir e compartilhar dos acontecimentos contados por Você pois Você escreve com competência, entusiasmo e amor e nos faz voltar no tempo. Muito bom!!!
Que Deus lhe dê muita saúde, sucesso em tudo e muita paz. VMSMarinho
Jobão amigo meu irmão, vc sempre representou tudo muito bem..alí, aqui, e onde esteve, vc é daquele cara que nem precisa muitas vezes falar, vc é notado...abs
seu amigo...Jonas didi
Vcs tem noticias do nego bonga?o carlos merencio dos passos...ele é meu pai.,eu não tenho notícia dele desde os meus 7 anos e estou com 37 agora...
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