Os vadios do São José
O termo “vadios do São José” traz consigo, de imediato, a idéia de dissolução, de irresponsabilidade, de vícios, de noites de embriaguez e, por conseqüência, de dias de ócio, para curar a ressaca. Durante muito tempo, essa expressão foi utilizada para rotular os indivíduos que não eram, digamos, "muito responsáveis". Pessoas sem regras ou disciplina, incapazes de parar em qualquer emprego ou de constituir e sustentar uma família. Ainda hoje a palavra tem esse sentido pejorativo. Mas nem todos os rapazes do bairro do São José eram vadios ou boêmios ou se dedicavam o tempo todo a noitadas alegres, regadas a álcool. Pelo menos no nosso caso e do nosso grupo de rapazes, nos princípios dos anos 60 e 70, não acontecia dessa forma. A maioria ou trabalhava ou estudava e nos preparávamos com afinco para a vida.
Reuníamo-nos nas nos finais de semana, após o trabalho ou estudos, em um bar da Rua Lino Gomes, que pertencia a um amigo nosso, em algumas mesas, para colocar a conversa em dia. Era a nossa forma de lazer. “Ali, entre um copo e outro, acompanhado de petiscos, disputando as bebidas e os tira-gostos na ‘porrinha”. Jogávamos até disputar todas as despesas, conversando e algumas vezes "zonando com as “amas de leite”, já que no sábado, ninguém da nossa turma teria que trabalhar ou estudar. Os temas eram extremamente ecléticos. Versavam sobre todos os assuntos em voga, já que tínhamos de tudo entre nós: estudantes de medicina, de engenharia, químicos, professores, jornalistas, administradores, dentistas, advogados, futuros: políticos, fiscais de renda, ex-jogadores profissionais de futebol, delegados de polícia, etc.
Reuníamo-nos nas nos finais de semana, após o trabalho ou estudos, em um bar da Rua Lino Gomes, que pertencia a um amigo nosso, em algumas mesas, para colocar a conversa em dia. Era a nossa forma de lazer. “Ali, entre um copo e outro, acompanhado de petiscos, disputando as bebidas e os tira-gostos na ‘porrinha”. Jogávamos até disputar todas as despesas, conversando e algumas vezes "zonando com as “amas de leite”, já que no sábado, ninguém da nossa turma teria que trabalhar ou estudar. Os temas eram extremamente ecléticos. Versavam sobre todos os assuntos em voga, já que tínhamos de tudo entre nós: estudantes de medicina, de engenharia, químicos, professores, jornalistas, administradores, dentistas, advogados, futuros: políticos, fiscais de renda, ex-jogadores profissionais de futebol, delegados de polícia, etc.
O Bar Cristal nestas ocasiões ficava mais barulhento que de costume. As pessoas nas mesas pareciam ter saído de um jogo de futebol e discutiam os mais variados assuntos. Bem, nem tão variados assim, já que noventa e cinco por cento das conversas de bar giram em torno dos temas: mulher, futebol, política, trabalho/estudos e assuntos relacionados.
Nossa mesa não era diferente. Já tínhamos conversado sobre todos esses assuntos sob diversas ópticas e nuances. Quem era mais gostosa, se Fulana ou cicrana; nossa última desilusão amorosa; quem era melhor, o Vasco ou o Flamengo; quem era a mão branca e responsável pela violência que nos atingia; enfim, toda essa ladainha masculina de bar que tanto nos atrai e que as mulheres não conseguem compreender.
Não nos recordamos de ninguém que se excedesse na bebida e de nenhuma desavença séria, apesar do "calor" com que alguns assuntos eram debatidos aos gritos e até palavrões. Principalmente os que se referiam a futebol e a política brasileira.
Mas toda a regra tem exceção, claro, tinha sempre algum que queria ser mais “sabido” que os outros, mas esses retrógrados não se davam conta do seu atraso e ignorância. Ou cinismo, oportunismo, ou sabe-se lá o que mais.
Uma vez por mês, nosso grupo fazia serenata, o bairro ou em algum outro bairro da cidade. Violência era coisa rara. Hoje, seria impossível isso. Quem se atrever, corre o risco de voltar nu para casa, se voltar. Será, fatalmente, assaltado.
O mais importante era é a energia positiva que rolava entre a gente, agradando tanto aos mais jovens quanto aos não tão jovens assim. “Agradar a todos era impossível. Nós sabemos que têm muitas pessoas que gostavam do que a gente fazia e tinham pouquíssimas outras, que não. Isto é normal, numa sociedade democrática. A gente só esperava contar com o bom senso, daquelas pessoas que não gostavam tanto, para que não atrapalhassem nossos objetivos, pois, o que nós fazíamos eram com muito empenho, amor e dedicação.
Essa era a nossa “vadiagem ou boêmia”. Ingênua, barulhenta, inocente. Além de aproximar amigos, servia como um aprendizado da realidade brasileira, embora na ocasião não nos déssemos conta. O objetivo era somente o de lazer. Havia noites que sequer bebíamos algo mais forte do que um guaraná (era quando tinha um jogo importante do Everton no dia seguinte).
Muitos assuntos foram debatidos e discutidos nesse bar (Bar Cristal) da Rua Lino Gomes, hoje remodelado para dar lugar a uma Loja de Matérias ortopédico. Nem gostamos de passar por ali, pois quando o faço nos dá um aperto no coração, pois um pedaço da gente ficou perdido nesse tempo específico e nesse local exato. Aprendemos muitíssimo com os jovens brilhantes e amigos que participavam dessas biritas e jogadas, hoje profissionais e políticos vencedores, de renome nacional.
Nossa vadiagem ou boêmia era inocente mais produtiva, profícua e inteligente. Não se associava a ócio ou embriaguez, a não ser aquela que atinge jovens idealistas dispostos a lutar por aquilo em que acreditavam: a das idéias. Parecia mais uma irmandade, onde os irmãos de fé arquitetavam um futuro, sem que ninguém sequer desconfiasse que estivessem fazendo isso.
A nossa galera
O Grupo de Jovens da galera do São José surgiu a partir do momento que o Everton foi fundado e que uniu todo o bairro em um único time. No início, as reuniões eram feitas nas casas, ora de um, ora de outro, antes de se construir o banco da Praça do Trabalho. Com a construção, as reuniões passaram a ser ali todos os dias das semanas.
Nas reuniões, nós falávamos sobre relacionamento, cinema, futebol, fofocas do bairro, sexo, desenvolvimento, progresso. Realmente, eram reuniões de “formadoras de opiniões”. Nesses encontros, não havia a presença de nenhum “intruso”, mas dos amigos que moravam no bairro. Eles se tornaram muito mais amigos que antes. Não tinham nenhuma influência direta sobre nossas opiniões. Eram companheiros mesmo e quase todos tinham idade próxima à nossa.
A turma que participava dos encontros de bate-papos era bastante mobilizada. Acredito que chegou a ter mais de 30 integrantes. Nós fazíamos muita atividade com a sociedade, como "os rachas no Bacião”, que ocorriam em um dia da semana. Não havia “coisas” ou bebida alcoólica, apenas conversas. Às vezes, fazíamos alguns eventos mais elaborados no salão da AABB, em que tinha um dos nossos amigos (Jobedis) como Diretor Social. Certa vez, fizemos o "Baile de Carnaval", e decoramos o clube e as mesas. Nós costumávamos fazer excursões para ndiversas localidades. Fomos para: Cabedelo brincar um carnaval, Baia da Traição para Veranear, representamos a Universidade da URNE com uma seleção Universitária na cidade de Itaporanga, íamos para diversas cidades do estado brincar o São João e o São Pedro, entre outras.
O mais interessante no grupo era o fato de ele ser democrático, não fazer diferença social ou cultural. Quando tinha algum evento ou passeio, todos eram chamados. Esse foi o maior sucesso do grupo em todo o período que ele esteve presente no bairro.
Os falsos vadios
Diariamente, apareciam no bairro charlatães e falsos “vadios”, com receitas "milagrosas" sobre a arte de viver, ditando normas, de conformidade com suas fantasias e ilusões. E nunca lhes faltavam discípulos e adeptos. Estes tipos de pessoas surgem do nada, eram espertalhões, que exploravam a ignorância, inocência ou boa fé dos mais simples e inocentes da vida.
Falavam baixinho, no ouvido destes inocentes, em modernidade, da “nova sensação”, embora, ao ver alguns daqueles estranhos que os chamavam pelo nome fumando um troço enrolado em papel de pão, exalando um odor estranhíssimo e convidando pra "dar um tapinha". Ao dizer que não fumava, eles retrucaram: "mas esse você vai fumar e se amarrar". Como nossa turma viu que todos riam sem motivo aparente de qualquer coisa, resolveram sair dali e nem sequer atenção o desconhecido e nem dar o tal tapinha. Eles como constataram a maioria da galera não queria e na cabeça nossa não existia nada de novo na cabeça desses “metidos a vadios”. Davamos um “gelo” e iam embora.
A influencia da nossa galera no bairro
Se não houvesse a amizade sincera da galera, acredito que a maioria daqueles grupinhos de jovens não teria muita perspectiva de crescimento. A não ser o fato de serem pessoas de família, de terem pais e mães como modelo de vida. Com aquela orientação de nossos pais e amigos mais velhos que a gente recebia, fomos amadurecendo, colocando nas nossas cabeças que não era só aquilo, que a gente poderia trilhar um caminho melhor. Vimos que tínhamos que estudar, progredir, buscar um objetivo maior de vida. Para a maioria da galera, isso foi muito importante porque eram filhos de família pobre e nossos pais tinham pouca condição financeira.
A integração que o grupo proporcionou entre os jovens e suas famílias foi muito importante para o bairro. Todos os jovens se conheciam, iam na casa uns dos outros e não havia distância entre eles e os adultos.
No nosso grupo, a maior liderança, a mais expressiva e carismática era a nossa fôrça de vontade. Ela era uma muito dinâmica, e tinha o diferencial para a época. Outros também exerciam uma liderança.
Os Bate-Papos
O comércio da cidade fechava geralmente às 17 horas e, logo depois, começavam a se formar as diversas rodas para o bate-papo até o horário do jantar, e restabelecido por volta das 19:30 até às 22:00 horas. Nesta hora, se dizia na época, “se soltavam as feras”. Era a hora que todos tinham que deixar as suas namoradas, retornando ao bairro. Pois neste horário começavam a chegar os freqüentadores assíduos, amigos e conhecidos, para as conversas e as novidades do dia. Havia tempo para tudo. Principalmente o encantamento por uma cidade e os delírios de uma mocidade cheia de sonhos, que se tornava grande aos nossos olhos. Estavam sempre presentes as figuras mais expressivas de uma geração: Fernando Canguru,Cho, Jobedis, Jonas Didi, Albertinho Limonta, Futenta, Glauco, Joadir Cabeção, Zeca, Mestre, Naldo, Martinho, Valdinho Carapuça, Mozaniel, Vadico Sabino, Firmino, Son, João Enganei Mãe, Catita, Chiquinho, Pedrinho Feitosa, Nego Gilson , Maribondo , Wallace, Willames Gaguinho, Zé Iacoíno, Chico Cateta, Mestre, Chininha, Sabará, Dedê Passarinho, Zé Neguim, Luiz Melo e outros.
Existiam grupos para conversas de todos os assuntos: futebol, política, religião, até de safadeza. Também um pequeno grupo, formado pelos “artistas”, rapazes de uma geração bem mais nova, que se preocupavam em se vestir na última moda e sempre com o cabelo muito bem penteado.
Tinha um grupo de notívagos, comandado por Sabará que varavam a madrugada em intermináveis conversas no “Banco da Praça”, grupo que era conhecido como os freqüentadores da ”Universidade da fofoca”. O grupo se entrincheirava em defesa do direito de jogar conversa fora, depois do cinemar. No banco eles comentavam futebol, política e, evidentemente, a vida alheia, divertindo-se com a ousadia do marketing do maior do “maior time de time de pelada da história de Campina Grande – o Everton Esporte Clube.
No banco da Praça até Zé Balbino aparecia por lá e falava mal da Seleção Brasileira e de Pelé, seu maior desafeto e falar bem de seu cumpadre Augusto Ramos, que para ele era a única pessoa da policia que ele respeitava.São tantos os mistérios das fofocas do banco da Praça que, para enumerá-las, nem mesmo com mil livros.
Infelizmente, uma grande maioria destes personagens já empreendeu a grande viagem, mas continuam presentes nas estórias que costumamos resgatar a nossa memória.
Como éramos felizes!
Hoje, procurando recordar alguns momentos memoráveis daquele local tão vivenciado por muitos companheiros da juventude, fazemos uma viagem no tempo, um evocar melancólico dos dias idos. Nunca se deve mexer em coisa antiga, mas, às vezes, é bom trazer de volta um passado que alegrou a nossa mocidade. No Bairro do São José, vivenciamos muitos fatos e momentos interessantes das nossas vidas e de como éramos felizes há tempos e não nos dávamos conta disso...
Abaixo algumas fotos dos desportista do bairro em comemorações de diferentes formas de lazer e confraternização.
ALGUMAS FOTOS DA GALERA DO SÃO JOSÉ
Abaixo algumas fotos dos desportista do bairro em comemorações de diferentes formas de lazer e confraternização.
ALGUMAS FOTOS DA GALERA DO SÃO JOSÉ