Talvez não haja em Campina Grande um bairro mais amado por seus habitantes do que o São José. Moradores que se orgulham de seu passado, suas tradições, seu folclore, enfim, sua história. Realmente, sem bairrismo, o bairro do São José tinha algo diferente das outros bairros da cidade. Nos atraia, magnetizando nosso infinito apego às suas coisas (nossas coisas), as brincadeiras, as travessuras, as estórias e histórias, os abnegados, os valentes, os folclóricos, os grandes atletas, os nossos heróis e heroínas...
As manifestações de carinho surgem por meio de palavras ou se concretizam em olhares e gestos. O Cine São José, A Igreja da Guia, o grande time do Everton seus grandes jogadores, o Campo do Treze, a AABB e seus grandes carnavais do passado, o Bar Cristal, o Grupo Escolar Clementino Procópio, a Praça do Trabalho, o antigo Açude Novo tudo era e ainda é motivo de orgulho para seus moradores.
O Cinema foi inaugurado em 1945, com a exibição do filme “Sempre no Meu Coração”. Pois é amigos de todas as minhas memórias, uma das que mais marcou grande parte da minha vida e dos moradores do bairro do São José de décadas passadas, foi o Cine São José.
A fachada do cinema, com sua cor cinza pálida, tinham o letreiro “Cine São José”, em letras garrafais de cimento, com uma pequena marquise à frente para abrigar aos espectadores, que aguardavam a entrada para a sessão de filmes conforme foto abaixo:
Ao observar esta foto do cinema, lembranças da infância e adolescência vêm à cabeça. A entrada, a bomboniere, onde dona Eulâmpia que vendia confeitos de balas gasosas, agora é usada para guardar resto de material. É algo estranhamente cruel e melancólico o sepultamento do Cine São José. São inúmeras as narrativas de pesar e nostalgia que mostram como, uma a uma, as salas de exibição de Campina Grande foram se extinguindo. Entre os anos 50 e 70, os quatro cinemas da cidade chegaram a funcionar simultaneamente, sempre adornados por grandes filas e bilheterias polpudas.
É muito triste ver o que esta acontecendo com alguns antigos prédios do bairro do São José, especialmente com o antigo Cine São José. Do bairro pelo qual tenho tanto carinho, onde nasci, onde vivi por anos e passei momentos especiais. Lá assisti a muitos filmes que, de alguma forma, se impregnaram em mim. Creio que sou meio fragmento dessa história, que me ajuda a me achar, a me completar. Há algumas décadas ele está fechado, ninguém aparece mais para assistir os filmes e nem a garotada vibrar com os seriados. A magia da sala escura, de todas as pessoas juntas sentindo emoção, rindo, chorando, tomando grandes sustos. E ainda tem aquela espera antes do filme começar, aquela musiquinha de cinema... Um clima muito show!”e no final assistir os seriados e final .
Os saudosistas como eu, não esquecem as sessões do Cine São José dos anos 60 e 70. O Cine São José foi inaugurado na década de 40 na Rua Lino Gomes, no nosso bairro. Equipamento importante que fez história e deixou saudades.
Eu me lembro da música, no início das exibições. Os encontros de namorados, aquela expectativa da namorada ir ao cinema, era o ponto de encontro. Na época, as matinês de domingo produziam doces sorrisos no rosto de cada um. O “artista”, “a mocinha”“ o Bandido” e o “doidinho” dos antigos seriados de faroeste faziam a alegria da garotada. As lágrimas e risos saíram de cena. Ao findar as sessões, todos se reuniam à porta do cinema ou na esquina, e aí então, começavam a comentar o filme e a série, toda a rapaziada ficava fascinada com as performances dos artista e os duelos dos faroestes.
Suas cadeiras eram de madeira, com assento móvel. Acredito que tinha umas 500 cadeiras, era tido como um cinema “poeira”, pois o piso era de cimento. Nos idos de 1952, houve a grande festa de inauguração de nova tela no cinema, uma tela especial chamada “cinemascoope” (tela gigante para época). Neste dia a casa estava cheia conforme foto abaixo.
Era uma beleza, o espectador participava com mais ação, principalmente dos filmes de faroeste. O cinema recebia moradores de todos os bairros da cidade. O bairro tinha muito orgulho de ter um cinema.
Alguns meninos se prepararam para ir a uma sessão que começaria às 14 horas, e era denominada como “matinè. Alguns levava revistinhas para serem vendidas para a compra do seu igressos, com a venda de suas revistas de “quadrinhos”, novas, seminovas ou surradas, colocaram em baixo dos braços, e iam para porta do cinema, com a finalidade de trocá-las por outras e com o lucro comprar o ingresso.
Logo no inicio a pesada cortina de veludo vermelha, começava a deslizar se abrindo para mostrar a tela branca em que se projetava, em seguidas vinham os trailers das futuras atrações. Os meninos batiam nas cadeiras quando a cavalaria chegava pra detonar com os índios.
A divulgação dos filmes se dava por meio do serviço de cartazes espalhados pelos bairros e no centro da cidade. As sessões aconteciam todos os dias e nas sextas feiras exibiam um seriado (o cinema neste dia lotava quase sempre).
Na portaria o porteiro seu Manoel (depois Lourenço), que não deixava menor de 10 anos entrarem desacompanhados dos pais. Todos de ingresso na mão entregavam ao porteiro e já procuravam as suas cadeiras, que eram de madeira. No cinema cabiam umas 1000 pessoas, e a ventilação era razoável, com aberturas de portas e janelas para os corredores nas laterais. Quem chegava atrasado, era acompanhada da “lanterninha”, um funcionário de lanterna na mão, que indicava onde havia lugares vazios.
Muitos moradores do bairro procuravam ficar junto aos outros garotos, para fazer algazarra. Ao começar a sessão, a musica clássica, e as luzes começavam a se apagar. Neste momento a algazarra era total. Gritos, assovios, vaias, ovações, a assim valia tudo gritavam: Huuuuuuuuuuuuuuu! E assobios gerais.
Logo vinha o gerente brabo seu Assis acompanhado de um policial militar que dava apoio ao cinema chamado Gedeão e do Guarda noturno Birô, quantas vezes eles chamavam a atenção dos bagunceiros. Este PM era baixinho, ficava uma fera e no escuro não conseguia distinguir as pessoas que estavam gritando “Gedeão Babão”. Era uma Zorra.
Dava-se inicio o “jornal da tela”, com as noticias nacionais (com destaque para o “canal 100”, na área do esporte). Afinal, chegava à hora do filme, que era em sua maioria faroeste da pesada, em PB (preto e branco). Lá estavam os nossos heróis Roy Rogers, Rock Lane, Buck Jones, Hopalong Cassid, Ton Mix. As cenas principais era a perseguição de bandidos a diligencias, e logo chegava o “mocinho” dando tiros e depois festival de “sopapos” e finalmente prendendo o bandido. E como recompensa recebia um longo beijo da “mocinha”. -Então: final feliz.
Depois do Filme, viriam os seriados, com “Flash Gordon, no planeta Mongo”, ou as peripécias do bandido chinês “Fumanchú”. A Deusa de Joba entre outros. Sempre o seriado terminava em suspense, e o resultado só poderia ser visto na próxima semana.
Cine São José de tanta saudade, de filmes como: "O gordo e o Magro" filmes do Carlitos (cinema mudo, mas muito engraçado e comovente), “Crepúsculo dos Deuses”, “O Ébrio”, “A Última Carroça”, Ben-Hur, Sansão e Dalila, a “Paixão de Cristo” (este “religiosamente”, na Semana Santa), as “Chanchadas”, ”Marcelino Pão e Vinho”, ‘Luzes da Ribalta”, “E o Vento Levou”, O “Poderoso Chefão”. Os seriados: os de Tarzan; Mandrake, o Mágico; Flash Gordon. Os famosos filmes de cowboys; Jim das Selvas; Entre outros.
E tinha mais: não vimos que se assemelhasse à torcida no cinema de então... Quando o mocinho acabava com o bandido, ou a cavalaria chegava pra salvar a família de pioneiros cercada pelos índios, o cinema inteiro virava a maior bagunça. Era uma barulheira só, com nós, crianças, batendo os pés, berrando e gritando.
Vale destacar, que nos momentos de algazarra total, era marcada com os filmes da produtora cinematográfica “Condor”, onde no anuncio do filme, aparecia uma águia no alto da montanha iniciando seu vôo. Quando batia as asas toda garotada gritava: - Chô, Chô...chô, em um rítimo uníssono. Era balburdia total. Só quem não gostava era o gerente, que vinha com uma lanterna, querendo pegar algum “moleque” neste momento, para botar para fora do cinema.
Seu Fechamento
O Nenhuma nota no jornal. Nenhum adeus! Ficou a lembrança daqueles momentos que assistíamos os trailers, vibrávamos com o Canal 100 e sua eletrizante música, permanecíamos após o fim do filme para assistir aqueles seriados agora só nos restam lembranças e saudades...
Cine SÃO JOSÉ carrega consigo parte da história cultural de Campina Grande, sendo o cinema mais popular da cidade desde a década de 50. Mesmo tendo concorrência com outros cinemas mais ‘sofisticados’, como o Cine Capitólio e o Babilônia. O Cine São José ganhou apelo devido ao caráter popular e aos baixos preços cobrados como entrada. Porém, a edificação está se deteriorando. A marquise está precária, podendo cair a qualquer momento. Por causa dessas condições, a Defesa Civil sugeriu a demolição da estrutura.
Assim, o cine São José, que foi o ponto de encontro de toda a geração de moradores do bairro do São José, e para sempre permanecerá na memória de todos. Hoje já não mais existe, pois deu lugar (depois de extinto há apenas ruinas. Conforme foto abaixo:
O cine São José morreu fisicamente, mas não na memória de um bairro que sempre o reverenciou. O progresso determinou a sua decadência, mas ficando a certeza que existirão outros “São Josés”, em algum lugar deste planeta, onde o avassalador progresso não tenha chegado.
Mesmo fechado e abandonado e foi invadido por uma família. Houve uma batalha pelo seu resgate, promoveram shows para arrecadar dinheiro, tudo isso para não ver o antigo cinema transformado em igreja ou invadido pelos sem-tetos. Foi elaborado um projeto para sua utilização como Cine-teatro e Escola para crianças e adolescentes em estado de risco social, a ser construída na sua área de fundo, que alcança a Rua João Moura. Parece que agora alguém se importou com o encerramento das atividades de nosso cinema. A UEPB através do curso de comunicação e seus alunos e seus dedicados e competentes funcionários.
O Cine São José de hoje - A atual Rua Lino Gomes tornou-se um emaranhado de veículos e pedestres. O bairro deu lugar ao asfalto, as pequenas casas deram lugar a prédios imensos. Muitos pontos comerciais e uma variedade de estabelecimentos se instalaram essa via. Muita coisa mudou nesses longos anos de história. E essa mudança deve continuar. Um projeto de revitalização do Cine São José foi anunciado pelo governador e que deve estar definido e colocado em prática nos próximos meses, dará uma nova roupagem ao “Cine São José” a intenção é fazer com que o se torne um local de eventos culturais, que os cidadãos do Bairro e os turistas, principalmente os estrangeiros, usufruam de um local agradável, com segurança e conforto. Mesmo estas modificações, aquele cinema do passado ficará para sempre guardada na memória dos pioneiros do bairro mesmo na sua precária condições atuais, mas atenta para o progresso. E que sua história seja contada e preservada sempre, para que as gerações futuras possam conhecê-la e valorizá-la.
10 comentários:
Amigo Jobão...PARABÉNS, meu amigo de fé camarada,esta sua postagem hoje, me faz lembrar tudo isso não num estado de tristeza e sim com muita saudade, que é amar esse passado lindo!!!
Tá na alma...pura emoção ao recordar tanta coisa que ficará na memória para sempre!!!
É com muito orgulho que digo...tô no seu time amigo Jobão "OS SAUDOSISTAS".
Jonas didi...eu nasci aí!!!
abs
O cine São José por meio de suas películas conseguiu fixar em nossas memórias a marca de uma época de muitas alegrias e saudades.
Você, Jobedis, utilizando palavras e imagens efetuou uma reprise perfeita de um filme que marcou tantas vidas: O CINE SÃO JOSÉ.
Marinaldo
30-01-2012
Uma pertinente homenagem a quem nos deu tantas alegrias.O “Cine São José” foi uma
casa de diversão de várias gerações.Para os moradores do bairro e de outros bairros adjacentes e por ser o mais” popular” da cidade,sem esquecer sua privilegiada localização.Ali assisti a filmes épicos;O Ébrio,Os dez mandamentos,Duelo de Titãs,Sol Vermelho,A paixão de Cristo(a mesma cópia todos os anos),às Séries...E os funcionários muito bem lembrado na citação acima.Seu Manoel(porteiro),D.Olympia o Hugo(Hugo Véia da Bosta),esse, a pedra no sapato do Sr.Assis(gerente) fomoso por seu “pavio curto”.Uma fase da minha infância e juventude de belas e inesqueíveis lembranças.
Ao editor,minhas congratulações pelas palavras e homenagem tão reparadora de nossa história.Quem o projeto do RC,venha resgatar grandiosidade que represente esse prédio para todos nós.
Vadinho
lauco Kardec Jobâo,excelente comentàrio à respeito deste espaço cultural A nòs,como moradores e frequentadores despidos de interesses politicos,sobra a preocupaçâo com os destinos do cinema.A nossa expectativa è que o governo de RICARDO COUTINHO, que jà alocou verba para restauraçâo começe o mais breve possìvel. em se falando do CANAL 100,tenho em DVD algumas reliquias deste noticiário, que enviarei posteriormente para o seu deleite.
Pra quem nasceu dentro daquele cinema, como eu, e ali viveu até os vinte aos de idade, ou seja, de 47 a 67, seu texto foi uma viagem, uma volta ao passado que me trouxe muitas, muitas, muitas boas lembranças. Fiquei, realmente, emocionada.
Jobedis Parabens pela materia. Lamentável mais esse episódio de destruição da cidade. Predominio do imediatismo, enriquecimento a qualquer custo, falta de sensibilidade cultural enfim. Ainda bem que resta um sentimento de pertencimento em uma parte dos cidadãos de Campina Grande como voce amigo. Que a sua luta seja vitoriosa!
Amigo, jamais pensaria de ler uma matéria que me deixaria de coração partido e com muitas lágrimas. Tudo isso que vc escreveu meu amigo ainda é pouco para muitas saudades de nosso Cine São José existente em nós. Falar dêle é lembrar tb de Dr. Hugo, como o Zeca e Antonio Gomes (mestre) o chamava, o Dr. Hugo era aquele que fazia os cartazes dos filmes para colocar nos postes, anunciando o filme da noite,êle sempre pedia aos meninos que escrevesse o nome certo do filme e o nome do artista. Certa vêz, iria passar um filme colorido da Metro, com Mel Ferrer, êle enrrolou-se um pouco e lá colocou o nome do filme nos cartazes. HOJE, " UM METRO DE FERRO COLORIDO".Isso é apenas gosazão que partia do mestre.Falar do velho Cine, é lembrar tb de seu Antônio o porteiro e, de nosso saudoso bilheteiro Sr. Escorel (Pai de nosso querido e saudoso Flávio Escorel. Lembro-me tb da pessoa generosa de Dona Graciela, muitas vêzes não tinhamos dinheiro para comprar a entrada e esperavamos por D.Graciela, que sempre quando iniciava o espetáculo, ela saia para dar uma olhada na rua e a gente aproveitava para pedir para entrar, ela olhava para o Sr, Antonio, o porteiro e, dizia deixe os meninos passar. Jamais irei me esquecer dêsse coração bondoso. Amigo, fico por aqui, com muitas lágrimas, com os olhos embassados sem ter mais condições de continuar.
Reportagem que faz a pessoa voltar no tempo, e lembrar das noitadas de filmes que a galera do São José, Liberdade e 40 gostavam de frequentar, onde lembro-me bem que antes de entrar para assistir uma película (Quase sempre a noite ao longo da semana)muitas pessoas tinha como de praxe comprar confeito rasga boca a D. Olímpia avô de de Edinho e Hélcio. Quando estávamos la dentro era comum encontrar um grupo da galera do São José (Jobão, Nego Luca, Nego Gilson, Martinho, Romero, Vadinho, Vicente, Chô, Calango, Sonzão, Fernando Canguru, e muitos outros. A principal expectativa antes das películas era assistir o canal do futebol do rio e São Paulo, e finalmente se deleitar com grandes faroestes e filmes épicos de sansão e Dalila, Hércules, etc. Parabéns Jobão pela lembrança dos velhos tempos que não voltam mais.
Amigo, Jobedis, o nome certo do porteiro do cinema era o Sr. Manoel e, não Antõnio, como mencionei , desculpe-me
sou jose vilarim trabalhei no cnema são jose ano64 e65 ate , sou da época do seu ze senhor antonio.sinto saudade da época do nosso querido cinema dos filmes faroeste trabalhava colocando os cartazes na frente do cinema e carregava filme par capitólio que dava-se o nome debaldiaçao que era levar um filme de um cinema para outro hoje so lamento e sinto saudade tempo tempo feliz que não volta mas,que fica guardado no coração de quem viveu mas não falo adeus mas um dia iremos voltar,
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