POR: JÓBEDIS MAGNO DE BRITO NEVES
Durante uma época era comum ver
os diversos times da cidade se defrontarem em algum campo do município, onde as
ruas, casas, prédios e edifícios nem estavam sendo planejados. Aos domingos, os
campos espalhados pela cidade recebiam jogadores de todas as partes e ficavam
lotados. A expectativa por ver os craques em ação era grande, bem como as
rivalidades existente entre os times. Tempos que não voltam mais. Quem não viu
perdeu um Central x Oriente, Estudantes x Sao Jose, Everton x Botafogo da
Liberdade, Real Campina x Atletico da Prata, Humaita x Leão do Monte Santo e
tantos jogos memoráveis que eram disputados e vividos a cada semana em todos
bairros. Eram os tempos do Olaria do Catolé, Comércio da Liberdade, Cenourinha,
Flay Blac, Sapateiros, Cruzeiro entre outros. Eram tantos e tantos que seria
impossível, à memória do já veterano pesquisador, lembrar-se de todos.
Os clubes de futebol de pelada, em sua grande maioria, eram muito pobres. Sobreviviam da paixão de seus colaboradores que contribuíam com o pouco que podiam - o que, geralmente, fazia falta no orçamento doméstico. A sede, quando não era o bar da esquina, era uma pequena casa, onde os quartos foram transformados deposito (onde eram guardados os fardamentos, a rede, a bola , a bomba e o bico). Na sala dos troféus, onde a diretoria exibia com orgulho as marcas de suas conquistas e era também realizadas as reuniões.Quase todas as sedes possuíam um lugar de segurança, o único local trancado a chave: a secretaria. É lá na secretaria que ficava, a mesa e a cadeira do presidente e de sua diretoria. Sim, do presidente, pois todo clube tem um. Normalmente o presidente era um dos fundadores do clube, ou um torcedor daqueles fanáticos e abnegado, pois, em todos os casos que conheci, estes presidentes não ganhavam nada; ao contrário, cobriam o buraco do orçamento no final do mês e acabavam indo a falência pessoal por amor ao clube. Normalmente, os clubes possuíam um tesoureiro para controlar as finanças, cujo balancete era muito simples: de um lado, a entrada do dinheiro que era obtido por meio do recebimento das mensalidades dos jogadores, lucro no bar e, eventualmente, de um bingo ou rifa que eram feitos para completar o que faltava para pagar as despesas. As despesas, basicamente, eram o aluguel da sede, lavagem do fardamento, compra de material esportivo ou compra de uma bola . Um ou outro jogador mais abonado ou simpatizante contribui com um pouco a mais.
Nesta época nenhum jogador recebia nada, jogava por amor e tinha de pagar sua mensalidade para jogar e chegar cedo ao campo senão ia para o banco. Muitas vezes deixava família aos domingos, alugava um ônibus para jogar em cidades da região. Muitas equipes faziam desse hábito, um saudável lazer para promover integração e reforçar os laços de amizade com agremiações de municípios vizinhos.
A Rivalidade dos Times
Havia uma grande rivalidade entre os times, cada jogo era uma batalha, onde os atletas provavam o amor pela camisa do time que atuavam. Cada bairro ou comunidade tinha times. A maioria das partidas era aberta a todos. Qualquer um poderia sentar ao redor do campo e acompanhar a partida. Com isso, as torcidas dos times mais populares aproveitavam para instigar o rival e provocar confusões. O time que tinha muita torcida não admitia perder o jogo e, por isso, partia para briga. Não tinha polícia para segurar todos os presentes, eu também presenciei muita briga e participei de poucas. Quando o jogo era bom, com equipes equilibradas e a fim de só ganharem o jogo, não tinha briga. Na segunda-feira todos se encontravam para trabalhar ou estudar, porque a maioria trabalhava em diversos locais da cidade.
Celeiro de craques
Em qualquer cidade brasileira os jogadores de futebol surgiam nos campinhos "de peladas". E em Campina Grande não foi diferente. Desde que o futebol chegou a nossa cidade, as ruas, praças e terrenos baldios serviram como locais para que ali fossem instalados campos de futebol, criados pela meninada. Os grandes "rachas" aconteciam a qualquer hora. Mesmo sob o sol causticante ou chuva torrencial a garotada não deixava de lado a prática do futebol. Dos campos de "futebol de poeira", como a garotada campinense costumava a falar, surgiram muitos jogadores de boa qualidade técnica. Esse pessoal, passou a defender os principais clubes de nossa cidade, do estado, do Brasil e do Mundo.
Conheci e conheço grandes jogadores de futebol. Alguns foram e são grandes amigos. Tive o prazer, como “peladeiro”, de jogar com alguns. Com todos eles aprendi um pouco ou muito, principalmente depois dos jogos, quando a gente ia tomar uma cervejinha e vibrar com a vitória ou lamentar a derrota. Ouvi histórias maravilhosas. Algumas alegres, outras muito tristes.
Existiam todos os tipos de jogadores/peladeiros
Tinha de tudo quanto era tipo. Estudantes, feirantes, mecânicos, pintores, engraxates, ambulantes e tantas outras profissões menos abastadas. Tinha aquele que só queria ganhar. Havia também os que reclamavam o tempo todo. Tinha os calados que nem pra gritar Ladrão e FDP serviam. Tinham aqueles “limpinhos” que não queriam se sujar e nem dar cabeçada, que era pra não despentear o cabelo. E tinha aqueles que só queriam ser “o tal”, aparecer, tocar a bola de lada, driblar e rebolar... Existiam outros que infernizaram muitas defesas e deram muitas dor de cabeça aos zagueiros que para pararem usavam de trancos e solavancos, e muitas vezes nem assim era parado pois era muito liso, e um grande finalizador.
Existiam também os jogadores tão ruins e desastrados que, em vez da bola, chutavam os restos de capim como se fossem roçadeiras roçando o chão. Tinha também jogadores que não tinha grandes habilidades técnicas. Jogavam o feijão com arroz muito bem temperado. Jogavam para o time. Tinham uma boa disposição e garra fora do padrão normal. Atuavam em várias “posições”, algumas vezes até no gol.
Tinha também alguns zagueiros de poucos recursos técnicos, sempre se destacaram pelo físico avantajado, pela força e rispidez com que decidia as jogadas, fazia o estilo de defensor que nunca perdia a viagem, os jogadores pipoqueiros tinha pavor de jogar contra eles. No geral eram sempre reconhecidos como uns jogadores lutadores, não desistiam nunca, voluntariosos, em algumas vezes arrepiavam até demais, como era praxe. Têm alguns que já não está mais entre nós, partiu para uma melhor, mas com toda certeza deixou para quem os conheceram lições importantes.
ATRATIVOS DO FUTEBOL DE PELADA
Outros atrativos destes jogos era a possibilidade de, na mesma partida, você encontrar jogadores amadores, atletas profissionais em folga, ex-jogadores consagrados que matavam a saudade na pelada e atletas que tiveram passagens por times profissionais e estiveram perto do estrelato, mas não conseguiram, por um motivo, explodir na carreira. Alguns desses "quase ídolos" completavam seu orçamento, com cachês que recebem de alguns times que precisam de reforços para disputar alguns campeonatos ou torneios. Durante quase 15 anos em meus finais de semana vivi a realidade do futebol de pelada como zagueiro ou como atacante. Foram jogos em todos os tipos de campos, campeonatos, torneios e amistosos. Conheci quase todos os cantos da cidade graças aos campos de pelada.
A qualidade dos campos pouco interessava. Fossem cobertos de grama ou de terra batida; de contornos indefinidos; lisos como uma mesa de bilhar ou cheios de buracos; tivessem traves ou marcados com qualquer peça que identificassem suas medidas. Sempre havia algumas rusgas na marcação de um pênalti ou gol por parte de um árbitro improvisado. Era a escola para a definição do futuro dos garotos candidatos a subir degraus de uma escada maior no futebol. Esse era um tempo que Campina Grande tinha espalhados por todos os cantos campos de futebol de pelada, quando surgiram clubes que disputavam competições de puro entretenimento.,Mas já era um tempo em que a promessa do aparecimento de um craque tinha configuração na realidade. É bem verdade que muitos desses clubes desapareceram na aceleração de circunstâncias econômicas inevitáveis como será citado mais adiante desta matéria.
Os Treinadores e Dirigentes
Apesar do aparente amadorismo, alguns técnicos e dirigentes de futebol de pelada se preocupavam até com a alimentação dos jogadores. No futebol de pelada de Campina Grande existiram muitos treinadores, mas um em especial, o “Fuba Vei”, merece ter sua história contada, mesmo porque boa parte dela eu posso atestar, pois foi meu treinador por quase 15 anos. Não era só “treinador” não. Era também chamador do bingo na sede do clube, roupeiro e amigos dos jogadores. Dava as notas pela atuação dos jogadores após os jogos, dava conselhos, recomendava, emprestava dinheiro e bebia junto aos seus alguns de seus atletas e escalava o bebum e esperava que ele tropeçasse na bola três vezes para sacá-lo do time. E o jogador, envergonhado, ficava um tempo sem repetir a irresponsabilidade. Os antigos dirigentes de futebol amador abriam mão de tudo, até do convívio familiar para se dedicar ao seu time do coração.
Tinha outros técnicos que cobrava disciplina de cada um, dentro e principalmente fora do campo. Outra coisa comum no futebol de pelada era as farras antes, durante e depois das partidas. Noitadas nas Boates, Clubes sociais ou nos bregas, tudo era eram normalíssimos. O máximo que o técnico fazia era o teste do olhômetro para barrar os boêmios. Como a torcida ficava sem entender algumas ausências. Se soubesse que algum daqueles seus pupilos tinha saído dos eixos durante a semana, no domingo a bronca era inevitável. Nem escalava o cidadão para o jogo. Ele era um grande anjo da guarda de todo mundo. Com sua “sabedoria” e a sua maneira, era sempre muito ouvido e respeitado.
As Viagens
O melhor do futebol de pelada eram as viagens. Normalmente viajávamos em ônibus ou naqueles caminhões (quando fazíamos longas viagens de ônibus, a gente se preparava e colocava na bagagem uma vasilha com farofa de frango ou peixe frito para bebeborarmos depois dos jogos. Tudo isso, porque naqueles tempos não havia ponto de apoio das empresas que transportavam passageiros para parar e fazer uma boa refeição e também por questão de economia, pois rango nos poucos restaurantes nos postos de gasolina eram os “olhos da cara” de caríssimo). Quando chegávamos ao destino, nossos cabelos estavam esturricados devido à nuvem de poeira que atravessávamos no caminho. Naquele tempo, jogador de futebol de pelada não atuava com gel nem cabeça raspada (só se passasse no vestibular). Na maioria das cidades que visitávamos o campo não era marcado, o que dava uma visibilidade terrível. Teve uma cidade hospitaleira (Serra Branca) que nos recebeu com uma bela recepção e uma “Buchada”. Levemente salgada, por sinal. De tanto beber água e algumas doses de cachaça, ninguém conseguia correr na hora do jogo. Mas não foi apenas a buchada, o juiz, que era do lugar e o dono do time, marcava tudo conforme sua conveniência. E uma falta na meia-lua ele dava pênalti. E não adiantava ninguém reclamar senão era expulso. Seu time quase nunca perdia.
Quantos times foram extintos? E quantos campos de futebol?
Não se sabe ao certo. Sabemos que o fim dos times e os campos tradicionais de Campina Grande tiveram um efeito nefasto sobre o futebol profissional da cidade. Pois eram estes times fazedores de craques que abasteciam os clubes com jogadores criados nestes times. Os campos periféricos do centro da cidade são apenas um exemplo. O progresso engoliu suas traves, sua história. Como foram engolidas dezenas, talvez centenas de campos, num raio estimado em até 10 quilômetros do centro da cidade, a Praça da Bandeira. Tudo foi devastado, substituído por prédios, condomínios, avenidas, e shoppings.
Hoje em dia o futebol de pelada nos finais de semana já não domina o lazer da rapaziada na cidade, além das baladas, dos shoppings, da internet com suas diversões e anúncios. A pelada nos domingos a tarde já é coisa antiga. É preciso entender que tudo mudou, mas que não está longe, não muito longe de acabar. Os clubes não são mais os mesmos, as disputas não são mais intensas, o número de campos é bem menor, os espaços livres nos bairros rareiam e as peladas já não é tão atraente como no passado.
Muitos clubes tradicionais fundados em Campina Grande que disputaram vários torneios e amistosos nos subúrbios da cidade resistiram o quanto puderam. Na longa caminhada, a maioria foi ficando para trás, abandonando as disputas e fechando suas portas. Muitos clubes que participaram vários anos e que chegaram a impressionar pelas belas campanhas que conseguiram realizar. Agremiações de prestigio na cidade que até chegaram ao título de campeão em vários torneios, ou mesmo, a de um vice-campeonato.
A história registra muitos casos de muitos clubes extintos. Uns decidiram se dedicar ás atividades sociais. A maioria se viu obrigado a fechar as portas porque estava economicamente falido. Quando um clube fecha suas portas, morre um pouco da historia do seu bairro ou comunidade. As crises internas, as divergências entre seus dirigentes e jogadores, os problemas financeiros, foram fatores que levaram esses clubes e muitos outros acabarem seus times de futebol.
No final dos anos 60 , surgiu o Grêmio do São José. Durante alguns anos, o Grêmio da São Joaquim (comunidade que existiam no bairro do São José) foi à sensação dos Domingos no “Bacião” (o campo era no antigo Baldo do Açude Novo). Se não chegou ao titulo de algum Torneio Suburbano foi porque faltou alguma estrutura. O time de futebol era excelente. Valia à pena ir ao estádio para assistir o Grêmio jogar, com seu capitão “Nego Roberto” e suas vestimentas psicodélicas. Ainda hoje – não me lamento em dizê-lo – quando passo pelo antigo Baldo do Açude Novo e vejo a magnífica Praça Evaldo Cruz, confrange-me o coração pois, naquele lugar, houve um campo de futebol de pelada que se transformou, no humilde mas heróico “Campo do Bacião, a “panela de pressão”,do time da comunidade da São Joaquim do bairro do São José.
Todos tiveram seus craques, suas vitórias. Estes clubes tiveram excelentes passagens por nossos gramados. Alguns chegaram a deixar saudade pelo que foi apresentado dentro do campo. Clubes que apenas disputaram vários torneios e alguns campeonatos e depois desapareceram. É sempre dramático o fim de um clube, entretanto, a grande maioria destes times, simplesmente passou. Apenas disputaram alguns anos. Estes clubes resistiram enquanto puderam, no entanto, acabaram fechando suas portas. Todos ficaram apenas na saudade.
As Grandes Equipes de Pelada da Cidade
Mesmo cometendo a injustiça de não citar tantos e tantos, é preciso confirmar serem inesquecíveis as equipes que até hoje são citadas, poucas continuam firmes através dos tempos, entre eles estão clubes como: Cruzeiro, Estudantes, Têxtil, Santa Adélia, Benfica da Liberdade, Belenense, Renascença, Dom Vital, Cenourinha, 11 da Vila, Guarani do Auto Branco,Comercio da Liberdade, Central, Cruzeiro da Estação, Sapateiros, Náutico, CAC, Bangu, Fluminense, Dolaporte, Cacareco, Juventus, Portuguesa, Everton, Grêmio, Embirense e o Cotonifício Campinense do São José, Internacional, Real Campina e Atlético da Prata, Noroeste, Flamengo, Humaitá, Leão, Leonel, Embirense, Santos da Estação. Botafogo, Auto Esporte, Linense, Londrina, Oriente todos da Liberdade. Real Madir do 40, Esporte Clube Peixeiros, Flay Black, São Cristóvão, Palmeiras, Arco-Íris, Atlético e Tamborzão todos do Tambor, Paraná, São Luiz, Planalto, Líbano. Milionário, Vera Cruz, Santa Cruz da Vila Castelo Branco, entre poucos outros.
Hoje, infelizmente, já não vemos mais tantos campinhos espalhados por ai. A verocidade das empresas imobiliárias e o aumento considerável do número de veículos impedem que as canchas de futebol se espalhem pela cidade, como acontecia antigamente.
Da época romântica ficou a história. Infelizmente as falências e extinção de clubes tradicionais não puderam ser evitadas, nem mesmo aqueles que ostentavam em suas sedes taças e troféus. E em quase todos os bairros tinha grandes times, onde a matéria prima era uma Fábrica de Talentos, a produção de peças de reposição para o mercado do futebol passou a ser fundamental para manter aquecida a paixão que os clubes despertavam em Campina Grande. Do futebol amador de Campina Grande surgiram grandes jogadores para o futebol profissional entre eles citamos: Nego Bé (jogou no grande Santos com Pelé), Grilo, Urai, Cará, Salomão, Tonho Zeca, Betucha, Dedê, Zé Preto, Rinaldo, Marquinho Góes, Jório, Nilson Camilo, Valdecir, Ribeirinho, Gilvan (hoje Pastor), Sandoval, Cicita, Ivo, Paulinho, Chiquinho Alegria, Assis Paraíba, Ivan, Lopes, Bidoreco, Ricardinho, Lopes, Luizinho Bola Cheia, Pibo, Simplício e Keka Clemente, Agra, Valnir, Pedrinho Cangula, João Batista, Dão, Edvaldo Morais, Deca, Eliomar, Son, Fernando Canguru, Gil Silva, Zé Pequeno, Fio entre outros do passado e mais recentes: Marcelinho Cangula, Flavio Bilica, Hulk e Denilson com passagens pela seleção brasileira. Para ser justo, precisaria falar ainda de muitos outros jogadores não citados.
As Sedes Sociais
Os clubes de futebol de pelada, em sua grande maioria, eram muito pobres. Sobreviviam da paixão de seus colaboradores que contribuíam com o pouco que podiam - o que, geralmente, fazia falta no orçamento doméstico. A sede, quando não era o bar da esquina, era uma pequena casa, onde os quartos foram transformados deposito (onde eram guardados os fardamentos, a rede, a bola , a bomba e o bico). Na sala dos troféus, onde a diretoria exibia com orgulho as marcas de suas conquistas e era também realizadas as reuniões.Quase todas as sedes possuíam um lugar de segurança, o único local trancado a chave: a secretaria. É lá na secretaria que ficava, a mesa e a cadeira do presidente e de sua diretoria. Sim, do presidente, pois todo clube tem um. Normalmente o presidente era um dos fundadores do clube, ou um torcedor daqueles fanáticos e abnegado, pois, em todos os casos que conheci, estes presidentes não ganhavam nada; ao contrário, cobriam o buraco do orçamento no final do mês e acabavam indo a falência pessoal por amor ao clube. Normalmente, os clubes possuíam um tesoureiro para controlar as finanças, cujo balancete era muito simples: de um lado, a entrada do dinheiro que era obtido por meio do recebimento das mensalidades dos jogadores, lucro no bar e, eventualmente, de um bingo ou rifa que eram feitos para completar o que faltava para pagar as despesas. As despesas, basicamente, eram o aluguel da sede, lavagem do fardamento, compra de material esportivo ou compra de uma bola . Um ou outro jogador mais abonado ou simpatizante contribui com um pouco a mais.
Nesta época nenhum jogador recebia nada, jogava por amor e tinha de pagar sua mensalidade para jogar e chegar cedo ao campo senão ia para o banco. Muitas vezes deixava família aos domingos, alugava um ônibus para jogar em cidades da região. Muitas equipes faziam desse hábito, um saudável lazer para promover integração e reforçar os laços de amizade com agremiações de municípios vizinhos.
A Rivalidade dos Times
Havia uma grande rivalidade entre os times, cada jogo era uma batalha, onde os atletas provavam o amor pela camisa do time que atuavam. Cada bairro ou comunidade tinha times. A maioria das partidas era aberta a todos. Qualquer um poderia sentar ao redor do campo e acompanhar a partida. Com isso, as torcidas dos times mais populares aproveitavam para instigar o rival e provocar confusões. O time que tinha muita torcida não admitia perder o jogo e, por isso, partia para briga. Não tinha polícia para segurar todos os presentes, eu também presenciei muita briga e participei de poucas. Quando o jogo era bom, com equipes equilibradas e a fim de só ganharem o jogo, não tinha briga. Na segunda-feira todos se encontravam para trabalhar ou estudar, porque a maioria trabalhava em diversos locais da cidade.
Celeiro de craques
Em qualquer cidade brasileira os jogadores de futebol surgiam nos campinhos "de peladas". E em Campina Grande não foi diferente. Desde que o futebol chegou a nossa cidade, as ruas, praças e terrenos baldios serviram como locais para que ali fossem instalados campos de futebol, criados pela meninada. Os grandes "rachas" aconteciam a qualquer hora. Mesmo sob o sol causticante ou chuva torrencial a garotada não deixava de lado a prática do futebol. Dos campos de "futebol de poeira", como a garotada campinense costumava a falar, surgiram muitos jogadores de boa qualidade técnica. Esse pessoal, passou a defender os principais clubes de nossa cidade, do estado, do Brasil e do Mundo.
Conheci e conheço grandes jogadores de futebol. Alguns foram e são grandes amigos. Tive o prazer, como “peladeiro”, de jogar com alguns. Com todos eles aprendi um pouco ou muito, principalmente depois dos jogos, quando a gente ia tomar uma cervejinha e vibrar com a vitória ou lamentar a derrota. Ouvi histórias maravilhosas. Algumas alegres, outras muito tristes.
Existiam todos os tipos de jogadores/peladeiros
Tinha de tudo quanto era tipo. Estudantes, feirantes, mecânicos, pintores, engraxates, ambulantes e tantas outras profissões menos abastadas. Tinha aquele que só queria ganhar. Havia também os que reclamavam o tempo todo. Tinha os calados que nem pra gritar Ladrão e FDP serviam. Tinham aqueles “limpinhos” que não queriam se sujar e nem dar cabeçada, que era pra não despentear o cabelo. E tinha aqueles que só queriam ser “o tal”, aparecer, tocar a bola de lada, driblar e rebolar... Existiam outros que infernizaram muitas defesas e deram muitas dor de cabeça aos zagueiros que para pararem usavam de trancos e solavancos, e muitas vezes nem assim era parado pois era muito liso, e um grande finalizador.
Existiam também os jogadores tão ruins e desastrados que, em vez da bola, chutavam os restos de capim como se fossem roçadeiras roçando o chão. Tinha também jogadores que não tinha grandes habilidades técnicas. Jogavam o feijão com arroz muito bem temperado. Jogavam para o time. Tinham uma boa disposição e garra fora do padrão normal. Atuavam em várias “posições”, algumas vezes até no gol.
Tinha também alguns zagueiros de poucos recursos técnicos, sempre se destacaram pelo físico avantajado, pela força e rispidez com que decidia as jogadas, fazia o estilo de defensor que nunca perdia a viagem, os jogadores pipoqueiros tinha pavor de jogar contra eles. No geral eram sempre reconhecidos como uns jogadores lutadores, não desistiam nunca, voluntariosos, em algumas vezes arrepiavam até demais, como era praxe. Têm alguns que já não está mais entre nós, partiu para uma melhor, mas com toda certeza deixou para quem os conheceram lições importantes.
ATRATIVOS DO FUTEBOL DE PELADA
Outros atrativos destes jogos era a possibilidade de, na mesma partida, você encontrar jogadores amadores, atletas profissionais em folga, ex-jogadores consagrados que matavam a saudade na pelada e atletas que tiveram passagens por times profissionais e estiveram perto do estrelato, mas não conseguiram, por um motivo, explodir na carreira. Alguns desses "quase ídolos" completavam seu orçamento, com cachês que recebem de alguns times que precisam de reforços para disputar alguns campeonatos ou torneios. Durante quase 15 anos em meus finais de semana vivi a realidade do futebol de pelada como zagueiro ou como atacante. Foram jogos em todos os tipos de campos, campeonatos, torneios e amistosos. Conheci quase todos os cantos da cidade graças aos campos de pelada.
A qualidade dos campos pouco interessava. Fossem cobertos de grama ou de terra batida; de contornos indefinidos; lisos como uma mesa de bilhar ou cheios de buracos; tivessem traves ou marcados com qualquer peça que identificassem suas medidas. Sempre havia algumas rusgas na marcação de um pênalti ou gol por parte de um árbitro improvisado. Era a escola para a definição do futuro dos garotos candidatos a subir degraus de uma escada maior no futebol. Esse era um tempo que Campina Grande tinha espalhados por todos os cantos campos de futebol de pelada, quando surgiram clubes que disputavam competições de puro entretenimento.,Mas já era um tempo em que a promessa do aparecimento de um craque tinha configuração na realidade. É bem verdade que muitos desses clubes desapareceram na aceleração de circunstâncias econômicas inevitáveis como será citado mais adiante desta matéria.
Os Treinadores e Dirigentes
Apesar do aparente amadorismo, alguns técnicos e dirigentes de futebol de pelada se preocupavam até com a alimentação dos jogadores. No futebol de pelada de Campina Grande existiram muitos treinadores, mas um em especial, o “Fuba Vei”, merece ter sua história contada, mesmo porque boa parte dela eu posso atestar, pois foi meu treinador por quase 15 anos. Não era só “treinador” não. Era também chamador do bingo na sede do clube, roupeiro e amigos dos jogadores. Dava as notas pela atuação dos jogadores após os jogos, dava conselhos, recomendava, emprestava dinheiro e bebia junto aos seus alguns de seus atletas e escalava o bebum e esperava que ele tropeçasse na bola três vezes para sacá-lo do time. E o jogador, envergonhado, ficava um tempo sem repetir a irresponsabilidade. Os antigos dirigentes de futebol amador abriam mão de tudo, até do convívio familiar para se dedicar ao seu time do coração.
Tinha outros técnicos que cobrava disciplina de cada um, dentro e principalmente fora do campo. Outra coisa comum no futebol de pelada era as farras antes, durante e depois das partidas. Noitadas nas Boates, Clubes sociais ou nos bregas, tudo era eram normalíssimos. O máximo que o técnico fazia era o teste do olhômetro para barrar os boêmios. Como a torcida ficava sem entender algumas ausências. Se soubesse que algum daqueles seus pupilos tinha saído dos eixos durante a semana, no domingo a bronca era inevitável. Nem escalava o cidadão para o jogo. Ele era um grande anjo da guarda de todo mundo. Com sua “sabedoria” e a sua maneira, era sempre muito ouvido e respeitado.
As Viagens
O melhor do futebol de pelada eram as viagens. Normalmente viajávamos em ônibus ou naqueles caminhões (quando fazíamos longas viagens de ônibus, a gente se preparava e colocava na bagagem uma vasilha com farofa de frango ou peixe frito para bebeborarmos depois dos jogos. Tudo isso, porque naqueles tempos não havia ponto de apoio das empresas que transportavam passageiros para parar e fazer uma boa refeição e também por questão de economia, pois rango nos poucos restaurantes nos postos de gasolina eram os “olhos da cara” de caríssimo). Quando chegávamos ao destino, nossos cabelos estavam esturricados devido à nuvem de poeira que atravessávamos no caminho. Naquele tempo, jogador de futebol de pelada não atuava com gel nem cabeça raspada (só se passasse no vestibular). Na maioria das cidades que visitávamos o campo não era marcado, o que dava uma visibilidade terrível. Teve uma cidade hospitaleira (Serra Branca) que nos recebeu com uma bela recepção e uma “Buchada”. Levemente salgada, por sinal. De tanto beber água e algumas doses de cachaça, ninguém conseguia correr na hora do jogo. Mas não foi apenas a buchada, o juiz, que era do lugar e o dono do time, marcava tudo conforme sua conveniência. E uma falta na meia-lua ele dava pênalti. E não adiantava ninguém reclamar senão era expulso. Seu time quase nunca perdia.
Quantos times foram extintos? E quantos campos de futebol?
Não se sabe ao certo. Sabemos que o fim dos times e os campos tradicionais de Campina Grande tiveram um efeito nefasto sobre o futebol profissional da cidade. Pois eram estes times fazedores de craques que abasteciam os clubes com jogadores criados nestes times. Os campos periféricos do centro da cidade são apenas um exemplo. O progresso engoliu suas traves, sua história. Como foram engolidas dezenas, talvez centenas de campos, num raio estimado em até 10 quilômetros do centro da cidade, a Praça da Bandeira. Tudo foi devastado, substituído por prédios, condomínios, avenidas, e shoppings.
Hoje em dia o futebol de pelada nos finais de semana já não domina o lazer da rapaziada na cidade, além das baladas, dos shoppings, da internet com suas diversões e anúncios. A pelada nos domingos a tarde já é coisa antiga. É preciso entender que tudo mudou, mas que não está longe, não muito longe de acabar. Os clubes não são mais os mesmos, as disputas não são mais intensas, o número de campos é bem menor, os espaços livres nos bairros rareiam e as peladas já não é tão atraente como no passado.
Muitos clubes tradicionais fundados em Campina Grande que disputaram vários torneios e amistosos nos subúrbios da cidade resistiram o quanto puderam. Na longa caminhada, a maioria foi ficando para trás, abandonando as disputas e fechando suas portas. Muitos clubes que participaram vários anos e que chegaram a impressionar pelas belas campanhas que conseguiram realizar. Agremiações de prestigio na cidade que até chegaram ao título de campeão em vários torneios, ou mesmo, a de um vice-campeonato.
A história registra muitos casos de muitos clubes extintos. Uns decidiram se dedicar ás atividades sociais. A maioria se viu obrigado a fechar as portas porque estava economicamente falido. Quando um clube fecha suas portas, morre um pouco da historia do seu bairro ou comunidade. As crises internas, as divergências entre seus dirigentes e jogadores, os problemas financeiros, foram fatores que levaram esses clubes e muitos outros acabarem seus times de futebol.
No final dos anos 60 , surgiu o Grêmio do São José. Durante alguns anos, o Grêmio da São Joaquim (comunidade que existiam no bairro do São José) foi à sensação dos Domingos no “Bacião” (o campo era no antigo Baldo do Açude Novo). Se não chegou ao titulo de algum Torneio Suburbano foi porque faltou alguma estrutura. O time de futebol era excelente. Valia à pena ir ao estádio para assistir o Grêmio jogar, com seu capitão “Nego Roberto” e suas vestimentas psicodélicas. Ainda hoje – não me lamento em dizê-lo – quando passo pelo antigo Baldo do Açude Novo e vejo a magnífica Praça Evaldo Cruz, confrange-me o coração pois, naquele lugar, houve um campo de futebol de pelada que se transformou, no humilde mas heróico “Campo do Bacião, a “panela de pressão”,do time da comunidade da São Joaquim do bairro do São José.
Todos tiveram seus craques, suas vitórias. Estes clubes tiveram excelentes passagens por nossos gramados. Alguns chegaram a deixar saudade pelo que foi apresentado dentro do campo. Clubes que apenas disputaram vários torneios e alguns campeonatos e depois desapareceram. É sempre dramático o fim de um clube, entretanto, a grande maioria destes times, simplesmente passou. Apenas disputaram alguns anos. Estes clubes resistiram enquanto puderam, no entanto, acabaram fechando suas portas. Todos ficaram apenas na saudade.
As Grandes Equipes de Pelada da Cidade
Mesmo cometendo a injustiça de não citar tantos e tantos, é preciso confirmar serem inesquecíveis as equipes que até hoje são citadas, poucas continuam firmes através dos tempos, entre eles estão clubes como: Cruzeiro, Estudantes, Têxtil, Santa Adélia, Benfica da Liberdade, Belenense, Renascença, Dom Vital, Cenourinha, 11 da Vila, Guarani do Auto Branco,Comercio da Liberdade, Central, Cruzeiro da Estação, Sapateiros, Náutico, CAC, Bangu, Fluminense, Dolaporte, Cacareco, Juventus, Portuguesa, Everton, Grêmio, Embirense e o Cotonifício Campinense do São José, Internacional, Real Campina e Atlético da Prata, Noroeste, Flamengo, Humaitá, Leão, Leonel, Embirense, Santos da Estação. Botafogo, Auto Esporte, Linense, Londrina, Oriente todos da Liberdade. Real Madir do 40, Esporte Clube Peixeiros, Flay Black, São Cristóvão, Palmeiras, Arco-Íris, Atlético e Tamborzão todos do Tambor, Paraná, São Luiz, Planalto, Líbano. Milionário, Vera Cruz, Santa Cruz da Vila Castelo Branco, entre poucos outros.
Hoje, infelizmente, já não vemos mais tantos campinhos espalhados por ai. A verocidade das empresas imobiliárias e o aumento considerável do número de veículos impedem que as canchas de futebol se espalhem pela cidade, como acontecia antigamente.
Da época romântica ficou a história. Infelizmente as falências e extinção de clubes tradicionais não puderam ser evitadas, nem mesmo aqueles que ostentavam em suas sedes taças e troféus. E em quase todos os bairros tinha grandes times, onde a matéria prima era uma Fábrica de Talentos, a produção de peças de reposição para o mercado do futebol passou a ser fundamental para manter aquecida a paixão que os clubes despertavam em Campina Grande. Do futebol amador de Campina Grande surgiram grandes jogadores para o futebol profissional entre eles citamos: Nego Bé (jogou no grande Santos com Pelé), Grilo, Urai, Cará, Salomão, Tonho Zeca, Betucha, Dedê, Zé Preto, Rinaldo, Marquinho Góes, Jório, Nilson Camilo, Valdecir, Ribeirinho, Gilvan (hoje Pastor), Sandoval, Cicita, Ivo, Paulinho, Chiquinho Alegria, Assis Paraíba, Ivan, Lopes, Bidoreco, Ricardinho, Lopes, Luizinho Bola Cheia, Pibo, Simplício e Keka Clemente, Agra, Valnir, Pedrinho Cangula, João Batista, Dão, Edvaldo Morais, Deca, Eliomar, Son, Fernando Canguru, Gil Silva, Zé Pequeno, Fio entre outros do passado e mais recentes: Marcelinho Cangula, Flavio Bilica, Hulk e Denilson com passagens pela seleção brasileira. Para ser justo, precisaria falar ainda de muitos outros jogadores não citados.
11 comentários:
Belos tempos aqueles que não voltaram mais...
Saudade daqueles bons tempos.
Jobedis
Gostaria de parabenizá-lo pela sua dedicação voltado para o esporte de Campina Grande.Voce nao imagina a importancia deste trabalho.
Parabens !!!!
Jobedis
Seu site é muito bom, parabéns pelo seu trabalho principalmente por estar divulgando o esporte amador da nossa cidade, já tem um tempo que comecei a acompanhar o blog RHCG que vc, muito legal mesmo, será o melhor da região pode ter certeza. A partir de agora vou acompanhar o seu blog. Abraços
Jobedis
Fiquei sabendo do site, mas não sabia que era vc., parabens pelo trabalho, ta mt bacana. falei do site para meus amigos de guara, aparecida que jogavam comigo eles gostaram bastante., e estão te visitando.
Grande abraço
SUCESSO...
Jobedis sua notável dedicação resulta a cada dia, em importante papel no desenvolvimento do futebol amador de nossa querida Campina Grande.Antes de tudo, aceite minha admiração e respeito por seu esforço e porque não dizer, profissionalismo. Isso, sem dúvida e, antes de mais nada prova sua cidadania e amor pela cidade.Sorte nossa e de maneira especial minha, de ter o prazer de desfrutar de sua amizade.
Jobedis
Gostaria muito de destacar a importância pioneira de seu blog.Hoje, quem praticava o futebol amador em Campina Grande ou quem apenas o apreciava, tem como acompanhar os fatos em sua veracidade e ainda ler seus comentários providenciais e principalmente, imparciais.
Você tem uma visão muito apurada sobre o desenrolar das atuações dos atletase isso te permite escrever tão bem sobre elas, parabéns.
Nunca te vi em campo como jogador, mas fora dele és um craque.
Jobedis
Quero dizer que esse Site faz com que os atletas do passado volte no tempo, inclusive, eu que joguei na decada de 64 a 79. éra muito dificil um titulo com o aspirante e mesmo o titular que éra uma maquina.Hoje vejo não existe o prazer de ver os grandes jogadores do nosso passado, um abraço a um ex jogador Valdir (fon-fon) desse grande time Everton a todos que ja vestiram a camisa vermelha e verde.
PARABENS JOBEDIS s , TIVE NAVEGANDO UM POUQUINHO NA NET E VI ESTA BELEZA DE SITE,FOI DEMAIS REVER ALGUNS ATLETAS QUE CONHECI E ATÉ FIZEMOS ALGUNS JOGOS JUNTOS;JA OUVI ALGUEM DIZER QUE POVO SEM MEMÓRIA É POVO SEM HISTORIA E CUNHA TEM HISTORIA E NEGO GILSON VC, FERNANDO CANGURU, SON, ENTRE OUTROS. CARA VOCE TA MATANDO A PAU.FICA COM DEUS E VAMOS FAZER HISTORIA!!!!!!!!!
UM GRANDE ABRAÇO,DITO
Humberto Codeiro de Farias
Parabéns JOBEDIS , seu site é show de bola... estou mandando no seu email alguns fotos antigas de times ai de campina pra você por no seu site. Aqui em Taubaté eu torço pelo São Paulo.
Eu não lembro exatamente em que ano foi, mas não faz muito tempo não eu estava em Campina Grande e acompanhei um jgo final de um campeoato suburbano no Estadio Plinio Lemos lá entre um equipe vermelha do Everton e o Botafogo da Liberdade (que perdeu o jogo por 3 x 1 ) mas eu gostei muito da equipe vermelha, agora sei o nome do time, e gostaria de ter uma camisa daquele time. se preciso eu compro a camisa. entre em contato comigo blz.
Prezado Jóbedes, inesquecível colega dos bons tempos dos cursos ginasial e científico do Esatadual da Prata.
Segue uma modesta contribuição ao teu brilhante trabalho de pesquisa e preservação da memória esportiva de Campina Grande.
Nos tempos das peladas
Benedito Antonio Luciano
Os domingos de minha infância, no bairro da Bela Vista, eram marcados por três eventos: a missa na igreja do Rosário, os jogos de peladas e o almoço à base de uma gostosa galinha de capoeira feito por minha mãe. Dessa época guardo saudosas lembranças. Lembro-me das novenas, na igreja de Bodocongó, das missas em latim, do canto gregoriano, das procissões, dos toques dos terreiros de candomblé, dos forrós, do doce de mamão, da água de cacimba e do picolé de morango.
Mas, o que eu gostava mesmo era de assistir a um bom jogo de pelada. Eu ficava torcendo para que a missa dominical terminasse logo, para que eu pudesse assistir ao jogo do Flamengo da Bela Vista, do Canto do Rio, ou do Fluminense; todos esses times jogavam descalços (sem chuteiras), no período da manhã. À tarde, jogavam os times calçados (aqueles que os jogadores usavam chuteiras). Dentre outros: o Leão, 15 de Novembro, Vasco, Botafogo, Textil, Santa Adélia, São Geraldo, d. Pedro II, Madureira e Humaitá.
Dos times que jogavam pela manhã, torci por dois: o Bela Vista, fundado por “Seu Edgar”, e o Flamengo, fundado por Carlinhos, em 1956, ambos com sede no bairro da Bela Vista.
Dos times que jogavam à tarde, dois deles ficaram gravados na minha memória: o Madureira e o Humaitá. As cores do Madureira eram verde e branca; as cores do Humaitá eram amarela e preta. A sede do Madureira ficava localizada do bairro da Bela Vista e a sede do Humaitá ficava na Volta de Zé Leal. Ambos os times tinham excelentes goleiros: o Madureira tinha Nenéu, na época, talvez o melhor goleiro de time de pelada; o goleiro do Humaitá era João Pipoca, deselegantemente elegante em seu vôos antológicos e seu calção caído.
Esses times marcaram época; e a época a que me refiro é o fim da década dos cinqüentas e início dos anos sessentas, eu era menino e quem me levava aos campos de pelada era o meu pai (“Seu Pedro”, como era conhecido).
E por não confiar apenas na minha memória, consultei Poroca, ex-jogador de vários times amadores e ex-jogador profissional do Treze e do Campinense, para juntos apresentarmos aos leitores as formações básicas dos times focalizados. Humaitá: João Pipoca, Coxixola, Zuza, Nivaldo, Birino, Abel, Ciço Mago, Lelé, Antonio Cêra, Adaltinho e Loxinha. Madureira: Nenéu, Rafael, Zé Preto, Ciço Salvador, Antonio Bodeiro, Aragão, Mira, Geraldo Lisboa, Deca, Pedrão e Valfrido.
E haja nostalgia!
O autor é professor do DEE/UFCG
Artigo publicado no Jornal da Paraíba, em 7 de agosto de 1988.
Postar um comentário