Este texto é de memórias
e tenta valorizar uma pessoa simples, um dos "folclóricos" do bairro
do São José e da nossa cidade que por muito tempo percorreu as nossas ruas.
Conhecido por muitos e zonado pela maioria.
É impressionante como o tempo passa
e às vezes não nos damos conta disto. Talvez, pelo fato de se ter que estar
aqui e ali para garantir a nossa sobrevivência e daqueles que estão sob nossa
tutela. Ou então por não olharmos para nós mesmos, preocupados com o acesso aos
bens de consumo, e em alguns momentos esquecemo-nos de quem somos e também
daqueles que estão ao nosso redor.
Durante nossa existência, tivemos a oportunidade de conhecer
um grande número de tipos populares. A maioria deles nasceu nesta cidade e
outros poucos vieram de outros locais, aqui chegaram e ficaram até o fim de
suas vidas. Durante toda minha juventude presenciei e ouvi histórias do mais fino
humor, algumas antológicas. Entre tantos
personagens, quase mitos, desse nosso acervo humorístico, destacarei o Zé
Neguim, para contar umas histórias pouco conhecida para algumas pessoas de
Campina Grande do passado.
Todos eles participavam de nosso cotidiano e, pelos seus
modos de agir, conseguiam chamar a atenção de quem tinha disposição para
dedicar-lhes um pouco de seu tempo .Entre as muitas figuras marcantes daquela época, de inicio
irei citar uma figura folclórica do bairro do São José. O José Balbino de Sousa
mais chamado por seu apelido de “Zé Neguim”. Era de estatura média, magérrimo,
sempre com um chapéu na cabeça e trajava-se com um terno surrado de cor escura.
Mas ninguém foi mais
folclórico no São José do que Zé Balbino ou “Zé Neguim” como também era
chamado. Adorava discutir política e futebol. Em sua modesta casa, Balbino
recebia os amigos. Sem uma profissão definida. Sempre chamava os amigos para
jogar pife na sua casa, lá estava ele sentado num banco diante de uma mesa
cheia de pregos que servia de fichas para os jogadores. A noite inteira a jogar
pife e falar de mal de Pelé (seu assunto predileto). Toda hora era pra falar de
Pelé.
Zé Neguim era um dos tipos populares, que
vivia sempre nas imediações da praça. Era bravo quando provocado ou imitado,
ficava possesso, fora da realidade. Vivia também da caridade, pois, como
podemos reparar essas figuras populares não gostam de trabalhar; trabalho para
eles era ofensa. Mas, Balbino costumava ajudar alguns proprietários dos bares,
e ao gerente do Cine São José, Seu Assis, principalmente de quem recebia ajuda
e o deixava entrar de graça no cinema e lhe deu um espaço para ele colocar um barzinho de lado do cinema. Assim era esse personagem andarilho e resmungão, às vezes alienado, às
vezes extrovertido, Balbino estava sempre nas festas do bairro (Conforme foto):
Nesta fotos na casa de Enésio Pedrosa em uma festa de confrtaternização do Everton Esporte Clube vemo: Ze Neguim, Bebê, Jobinho Vidal, Sassá, Odon, Bruninho Vidal (a criança) Glauco Kardec, Tom, Jobedis, Margarete Glauma e Nilreide Torreão Brito
Gostava de ir atrás dos
amigos especialmente de seu amigo maior o “Cabo Cipriano” nosso grande jogador Chininha.
O Zé Neguim era um inocente travesso, mas
portador de uma sagacidade e de uma capacidade de enganar o seu semelhante sem
limites, andava mal vestido, um evidente indicativo de malandragem na época
para uns, para outros, e um traço de boemia que distinguia os seres iluminados
e raros que ousam ser diferentes. Zé era o nosso palhaço sem circo.
Nas rodas de amigos formadas no bairro do São José o “Zé
Neguim” sempre estava presente e bastava ser provocado para aceitar qualquer
aposta. Certa vez fumou alguma “coisa” que lhe deram e lhe deu uma fome da gota
serena. No outro dia ele disse para a galera que a fome era tão grande que bebeu
“Inté leites das crianças” (seus filhos). A façanha do Zé Neguim espalhou-se
rapidamente, principalmente nos círculos esportivos do bairro.
Gostava de contar algumas histórias engraçadas e em troca era
alvo de gozação por parte de seus conhecidos, principalmente daqueles que
compareciam aos bate papos sobre futebol, nos quais o Cabo Cipriano (China) seu
amigo do peito estava presente.
Durante certo
tempo, Balbino juntava restos de comidas nas casas de amigos e nos bares e
levava para dar à sua criação de porcos, e nessa época aconteceram muito casos
engraçados nos quais ele foi a principal figura.
Um dia porém o Zé
Balbino deixou de recolher a comida que era dada para os porcos. Perguntado ao
mesmo porque havia deixado de cuidar dos porcos, ele disse simplesmente que não
compensava o seu “trabalho”.
Quando me casei e
fui morar no Rio Grande do Sul soube que
Zé Balbino ainda viveu alguns anos e após algumas pessoas notaram que há
muito não o via a alguns tempos, fiquei sabendo que havia falecido sendo que de
sua morte só tiveram conhecimento os amigos mais chegados.
Além deste
personagem folclórico do Bairro do São José e de Campina Grande que ora
focalizamos, existiram uma infinidade de pessoas que conhecemos e que fazem
parte do folclore local dado a sua “profissão” ou seu meio de vida. E isso não
vem ferir sua suscetibilidade, uma vez que serão sempre relembrados por nós, pois, de certa forma, fazem parte da nossa
história.
Alguns causos e
histórias de Zé Neguim:
· Zé Balbino era famoso para
gostar de ir a velório. A pessoa morria
e lá ia Balbino visitar o defunto. Em um
velório, alguém perguntou a Balbino porque ele gostava tanto de ir ao um
funerário - Balbino respondeu - Para ver a viúva ou o viúvo se estão chorando
ou fingindo explicou ele com seu jeito folclórico de ser.
· Gordo da
padaria se encontrou com Zé Balbino e disse a ele o seguinte? Já deu muito
croque em mim não foi Balbino? Ele respondeu - Como você é roncoroso...
· No São José tinha um açougueiro chamado
Abel (famoso pelas suas biritas). Um dia ele estava de ressaca e uma cliente
perguntoupor ele a Zé Neguim se o Abel ia
abrir seu açougue e se ele tinha figado? – Ze Neguim respondeu – Que não tinha
não, porque a cachaça tinha comido tudo...
·
A mulher de Zé Balbino estava no hospital, deitada
numa a maca, esperando a chegada do médico. Depois de algumas horas ele chega e
pergunta a Zé Balbino: — O senhor tem preferência de anestésico? - Zé Balbino responde: — Óia, mas que dotozim...
Mas que num sei não! Mai o enfermeiro me agarantiu que ela tinha a úilcera no
estrombo!
Zé Balbino deixou muitas
lembranças saudades.