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sexta-feira, 29 de março de 2013

A SEMANA SANTA DO PASSADO EM CAMPINA GRANDE

POR: JOBEDIS MAGNO DE BRITO NEVES

Nos meus tempos de menino/adolescente que já se vão longe, o período da Quaresma no bairro do São José onde nasci,  era vivido com mais religiosidade e brincadeiras para diminuir a tristeza pela morte de Cristo. 

Pela manhã pessoas pediam nas portas o ‘jejum’ da Semana Santa. Algo que também fazia parte da tradição. Era quase um ritual dá-se a esmola daquele dia. E eram tantas... Nunca me esqueço deste peditório das crianças – “me dê um jejuzim pra minha mãe jejuar?”. 

Alguns mais ousados aproveitavam o dia para jogar baralho e beber vinho. Os mais antigos, sobre tudo as mulheres, não gostavam desses procedimentos. Coisas que também não eram bem vistas pelo padre. 

Na quarta-feira de trevas, não tinha aula. Na Quinta-feira Santa o padre da Igreja da Guia lavava os pés de alguns fiéis. Na sexta-feira da Paixão, nada no bairro funcionava (só o cinema), a não serem os templos católicos. O comércio não abria e os Bares (eram poucos por sinal) cerravam suas portas. 

O Cine São José exibia a “Paixão de Cristo”, em sessões contínuas, sempre arrancando lágrimas dos assistentes. O jejum (salvo o almoço de bacalhau) e a abstinência eram rigorosamente obedecidos. A procissão do Senhor Morto  arrastava multidões, chovesse ou fizesse sol, todos querendo chegar mais perto do andor pra tocar nas chagas de Cristo. 

O Serra velho - Está é uma brincadeira, que poucos de hoje conhecem. Perto da meia noite, a turma se juntava, saindo para escolher a “vítima”. Era um vozerio danado pelas ruas. Trazíamos um serrote, algumas tábuas, uns amigos acompanhavam somente para chorar. O testamento do que ia ser serrado ou serrada estava escrito no bolso. Era um barulho infernal, justamente para incomodar o “escolhido(a)”. Claro que sempre tomávamos umas e outras. Logo, alguém começava a ler com voz chorosa: - Seu fulano de tal, aqui está o seu testamento, e nós gostaríamos de saber para quem o senhor vai deixar a sua filha, seu cachorro e seu dinheiro. O resto da rapaziada começava a chorar e pedir para ele não partir que ainda era muito novo. O cara do serrote começava a serrar um pedaço de tábua, reco-reco-reco-reco-reco. 

E a Galera gritando - morre cabueta. Houve ate um dos Homenageados que deu tiro. Era um alvoroço só. 

A cada indignação do dono da casa, a turma chorava mais e lamentava a sorte do escolhido. Claro que o dono da casa dizia cobras e lagartos e teve um que até tiro deu para os serradores. Neste momento a turma corria, sorrindo e comemorando muito. E logo começavam a escolher a próxima vitima. Mas, não se assustem se qualquer dia desses baterem na sua porta e alguém pedir para ler o seu testamento. 

Reco-reco-reco-reco-reco-reco-reco. 

O sábado era realmente o sábado de aleluia, quando acontecia a tão aguardada malhação do Judas, à época, um dos eventos de maior participação popular do bairro do São José. Os moradores começavam a preparar o Judas ainda na quinta-feira, tudo de forma organizada e com uma pitada de segredo – o nome do Judas escolhido só seria divulgado na última hora, geralmente um caboeta do Bairro, político corrupto, um dono de bar vadio e careiro, a fofoqueira do bairro, ou mesmo um meliante que tivesse cometido um crime hediondo (coisa difícil de suceder, naquele tempo). 

O Judas  - Os “homenageados” era um dono da Bodega, da fofoqueira do bairro ou qualquer pessoa que incomodasse, os bonecos eram suspensos aos mastros do poste e, ao meio-dia, serão malhados a pauladas, explodidos, queimados, atropelados, enfim, eliminados. Como bodes expiatórios são neles que o povo ia extravasando a sua insatisfação com a situação reinante. 

O boneco era confeccionado de pano, de corpo inteiro. O cuidado maior se concentrava no rosto do Judas, que devia ter traços bem delineados para ajudar na identificação da personalidade escolhida para a malhação. 

Dezenas de pessoas se concentravam na praça onde, pendurada num poste mais de 4 metros de altura, o corpo de Judas balançava devidamente protegido por uma guarda de homens determinados a evitar que alguém o “roubasse” ou começasse a malhação antes do horário estabelecido. O espetáculo ocupava praticamente toda à tarde/noite, tempo suficiente para que o boneco – já no chão - ficasse inteiramente desfigurado de levar pontapés e do agarra-agarra dos meninos em busca dos bombons que eram colocados na cabeça do Judas. 
NESTA FOTO A GALERA POSA COM O JUDAS

E o lugar se transformava numa festa, em que não faltavam os vendedores de rolete, de algodão japonês, de cavaco chinês, de amendoim. 

UM DOS CONVITES PATA A MALHAÇÃO


Pra fechar as comemorações, assistia-se à missa do domingo de Páscoa e as famílias se reuniam para o aguardado almoço, em que não podia faltar o velho vinho de mesa Imperial, do qual até eu – menino enxerido - tomava um “pouquinho” com que se encerrava aquela semana de outros tempos

8 comentários:

Anônimo disse...

Concordo com você. Tínhamos mais respeito e dávamos continuidade às tradições. Lembro que até as rádios passavam focar parábolas da bíblia. E era comum vermos os mais velhos escutando com muita fé e respeito. Você foi muito feliz em suas colocações.
Tradições e respeito que só existem em nossos corações e nas lembranças.
Valeu, Parabéns!

Vadinho

Anônimo disse...

Realmente Jóbedis, era exatamente asim como vc descreveu... as tradiçòes se foram, maisa queles que conhecem Jesus sabe que ele vive entre nós. Feliz páscoa a todos....

Nadya

Anônimo disse...

Dá foto com o “Judas”, digo:
A minha saudade e a minha esperança de um reencontro aos que, por vários motivos, nos deixaram, seguindo outros caminhos.

Vadinho

Glauco Kardec disse...



Jobâo:Valeu a reportagm e o resgate da Semana Santa de Outrora .Relembrei de fatos curiosos.CURURA e BALA BARBOSA,tentaram roubar o Judas e se deram mau .E as famosas passeatas à pè pelas ruas do bairro e no caminhâo de Inacio MEIRA pelas ruas de C.Grande,deixando bastante saudade. Boa Páscoa.

Vicente Barros disse...



Jobâo: A semana Santa me traz boas recordaçoês,lembro quando fazìamos o
nosso Judas e logo botamos o nome de uma pessoa controversa do bairro.Num dos serra realiazados o homenageado revoltou-se,e o nosso Zé Nogueira saiu correndo e defrontando-se com um poste, que lhe causou em ferimento no rosto.

Lilian Maria Borges disse...

Querido Jobedis ,
parabéns pelo seu blog, desculpe não ter comentado antes, mas fica o registro de que sempre te visito.
Sou suspeita em comentar sobre o teu Museu do esporte de Campina Grande onde nasci, pois adoro esse "tipo"de texto, e sem sombra de dúvida, gosto da maneira descreves algumas situações do seu cotidiano.
Boa sorte!

Anônimo disse...

OLA GENTE DAR PRA DEFINIR QUEM E QUEM NESSA FOTO ACIMA DA TURMA!!!OBG

Jobedis Magno disse...

Infelizmente não amigo

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